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Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, oh bela!
Contigo, dizes, suspirando amores
Meu Deus! Que gelo, que frieza aquela!
Como te enganas! Meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo
E se te fujo é que te adoro louco
És bela, eu moço, tens amor, eu, medo
Tenho medo de mim de ti, de tudo!
Da luz, das sombras do silêncio ou vozes
Das folhas secas do chorar das fontes
Das horas longas a correr velozes!
O céu da noite me atormenta em dores
A luz da aurora, me enternece os seios!
E ao vento fresco do cair da tarde
Eu me estremece de cruéis receios
É que esse vento que na várzea, ao longe
Do colmo o fumo caprichoso ondeia
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!
Ai! Se abrasado crepitasse o cedro
Cedendo ao raio que a tormenta envia
Diz: Que seria da plantinha humilde
Que à sombra dela tão feliz crescia?
A lavareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho!
E a pobre nunca reviver pudera
Chovesse embora paternal orvalho!
Ai! Se te visse no calor da sesta
A mão tremente no calor das tuas
Amarrotado o teu vestido branco
Soltos cabelos nas espáduas nuas!
Ai! Se eu te visse Madalena pura!
Sobre o veludo reclinada a meio
Olhos cerrados na volúpia doce!
Os braços frouxos, palpitante o seio!
Ai! Se eu te visse em languidez sublime
Na face às rosas virginais do pejo
Trêmula a fala, a protestar baixinho
Vermelha a boca, soluçando um beijo!
Diz: Que seria da pureza de anjo
Das vestes alvas do candor das asas?
Tu te queimaras a pisar descalça
Criança louca! Sobre um chão de brasas!
No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!
Vampiro infame eu sorveria em beijos!
Toda a inocência que teu lábio encerra
E tu serias no lascivo abraço!
Anjo enlodado nos pântanos da terra
Depois, desperta no febril delírio
Olhos pisados como um vão lamento
Tu perguntaras: Que é da minha coroa?
Eu te diria: Desfolhou-a o vento!
Oh! Não me chames coração de gelo!
Bem vês: Traí-me no fatal segredo
Se de ti, fujo, é que te adoro e muito!
És bela, eu moço tens amor, eu medo!
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